Na vida, todos nós estamos expostos e sujeitos a vivências traumáticas.

Presenciar a um acidente de automóvel, a um atropelamento, um assalto ocorrido com um amigo, sabermos pelos jornais de fatos que acontecem do outro lado do mundo, com cruel riqueza de detalhes e imagens impregnam a nossa mente todos os dias, impactando-a com conteúdos traumáticos que por empatia nos assustam e por vezes nos apavoram.

Filmes e novelas com inspiração “nos quintos dos infernos” nos impactam o tempo todo.

Como mamíferos que somos temos o senso coletivo grupal e nos balizamos pelos sinais de medo emitidos pelos nossos semelhantes e pelas ameaças de palavras “mal ditas” só para enfatizar a importância dos meios de comunicação e da rapidez com que estas chegam até nós e a responsabilidade de quem emite estas palavras. Deveríamos escolher melhor as coisas às quais nos expomos e permitimos que nossos filhos se exponham, muitas vezes desnecessariamente.

Mas existem ainda os traumas vividos, traumas da nossa história de vida.

Pais egoístas ou negligentes que deixaram marcas de abandono e crenças de desvalor a respeito de nós mesmos e que de nenhuma forma correspondem à verdade.

Pais doentes que usam álcool ou drogas muitas vezes vítimas eles mesmos de situações traumáticas vividas em suas vidas, ficando ausentes da relação, embora de corpo presente ou nos quais o único foco se torna seu vício, deixando os filhos à própria sorte e formulando crenças inverídicas a respeito de si.

Pais extremamente exigentes para os quais os filhos precisam ser perfeitos para que eles mesmos sejam “avaliados” como pais perfeitos, por medo de não serem bons o suficiente e que acabam criando filhos que acreditam que têm que satisfazer a todas as exigências do mundo ou de outros, por exemplo, esquecendo-se de si mesmos.

Eu poderia ficar aqui por horas citando exemplos de formas diversas de traumas sem falar dos mais graves como guerras, ausência de estado de direito, abuso de poder etc etc

Mas o importante é: e agora?

Será que porque uma vez fomos traumatizados estamos condenados a vivermos eternamente com nossas questões muitas vezes tão pesadas para nós mesmos?

Será que seremos eternamente vítimas da nossa história, vivendo com partes dissociadas e que muitas vezes nem mesmo temos consciência de que estão ali, gritando por socorro, deixando-nos ansiosos, pedindo nossa ajuda e isoladas?

Por sorte, a resposta é não.

Existem formas de abordagem que possibilitam entrarmos em contato com estas partes por mais escondidas ou sufocadas que estejam, por mais dolorosas que sejam e de forma branda e amorosa, acolhendo a estas partes, incluindo-as, tornando o nosso eu mais inteiro e uno e por isso mesmo mais forte.

Existe um “eu essencial”, profundo, do qual todos nós temos a experiência  interna, íntima, e que é capaz de reconhecer e acolher a nós mesmo sem julgamentos ou preconceitos, aceitando-nos como somos e nos tornando um.

Sem que precisemos jogar pra fora, nos outros ao nosso redor, aquilo que nós mesmos muitas vezes julgamos como inadequado, formando uma sociedade tão recortada de pequenas minorias que na verdade acabam formando a maioria usada como massa de manobra por alguns espertos. Precisamos nos tornar um por dentro para sermos unos como sociedade humana.

Para que possamos lidar com os nossos traumas, grandes ou pequenos, existem abordagens terapêuticas cerebrais, focais, que vão literalmente “direto ao ponto”, associadas aos olhos, nossa parte mais externa do cérebro, eficientes, rápidas e principalmente curativas.

Terapias onde podemos ser vistos, confirmados e validados na inteireza da nossa experiência em todas as dimensões, tanto de pensamentos, sentimentos, fantasias, crenças, comportamentos, etc., e que nos ajudam a nos sentirmos aceitos, tal como somos, incondicionalmente.

O Brainspotting e o EMDR são dois exemplos de terapias que contribuem muito para o bem-estar e a vida em paz com a nossa comunidade interna e com as partes do mundo.

 

Texto escrito por Sandra Colaiori
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta