“Acho que eu nunca mais vou conseguir largar esses remédios, acho que eu tô louco”.
Ouvir isto de uma pessoa jovem, que tem filhos, uma vida pela frente, é bastante doloroso para nós, psicoterapeutas.
Durante a sessão com o paciente, percebi uma frase que se repetiu algumas vezes: “Eu não vou dar conta”.
E, desde quando você acha que não vai dar conta?, perguntei.
Ele começou a contar coisas mas sempre negava um trauma. Ele não sabia, mas o corpo dele sabia. Traumas de infância, situações que precisavam ser processadas e elaboradas para que pudesse voltar a viver mais tranquilo e mais feliz.

A ciência hoje faz uma distinção clara entre loucura e doenças mentais, entre elas, a psicose, uma distorção do pensamento e do senso de realidade que pode prejudicar muito a vida do paciente. Que fique claro, psiquiatras ou psicoterapeutas nunca utilizam termos como louco ou loucura para nenhum distúrbio psiquiátrico.

Como várias outras doenças, o diagnóstico da doença mental não é fácil de ser feito pelos médicos. Alguns fatores precisam ser levados em conta.

A maioria dos diagnósticos é feita com base em sintomas que, no caso dos problemas psiquiátricos, aparecem como comportamentos indesejáveis ou pensamentos intrusivos, repetitivos e que a pessoa não tem controle. Existem pacientes cujas queixas têm bases puramente orgânicas e que não podem ser processadas e seus sintomas desaparecerem. Ou seja, um problema teoricamente orgânico, porque poderíamos até inferir alguma base transgeracional e trabalhar isto, o que não acabaria com a base orgânica mas poderia, talvez, amenizar algo dali para a frente, em gerações posteriores, o que não vem ao caso para esse artigo. Também podemos trabalhar o impacto do preconceito que as pessoas vivem quando recebem um diagnóstico, por exemplo.

Mas, na maioria das vezes nós estamos nos deparando apenas com “diagnósticos” feitos a partir de sintomas, de comportamentos, de sensações, consequências físicas muitas vezes de algo muito precoce e que nem sequer pode ser lembrado. São marcas que o corpo se lembra muito bem, como sintomas físicos, flashes, percepções, pensamentos intrusivos, sensações, ou crenças que nem se sabe de onde vieram. Às vezes, comportamentos que alguns pesquisadores denominam “memória implícitas”, sem palavras.

Se o diagnóstico tem origem em traumas, ou traumas de apego, ou de desenvolvimento, então sim, eles certamente serão estabilizados durante a terapia. Algumas terapias são mais profundas (subcorticais) e podem ajudar mais.

Além disso, efeitos ou consequências de doenças orgânicas também podem ser trabalhados, processados e melhorados ao se fazer o processamento da informação. Nesse caso, suas crenças limitantes, sua personalidade de base, posturas, a rede de apoio, a visão de vida, a visão de mundo, a espiritualidade, etc, poderão interferir na recuperação ou não da sua saúde física. São estas questões da psiquê que podem ser trabalhadas na psicoterapia e processadas com abordagens de processamento (tipo EMDR, por exemplo).

Mas, por que isso acontece?

Certas informações estão armazenadas no nosso cérebro de forma inadequada e não é possível serem conectadas a nenhuma outra informação adaptativa ou redes de memórias positivas ou saudáveis.

Então, quando vivemos situações “similares” na vida cotidiana, os afetos e percepções do aqui e agora fazem conexões tanto internamente quanto externamente, com essas redes de memórias antigas e sem processamento. Os afetos e percepções originais aparecem como sintomas agora.

As lembranças e experiências passadas estão vivas, ativas dentro de nós, e aparecem como “sentir-se mal”, ou um pensamento intrusivo do tipo “eu não vou dar conta” ou “ninguém gosta de mim”, ou uma “taquicardia” em uma determinada situação porque de alguma forma, naquele momento de vida, emoções, sensações e pensamentos antigos foram ativados.

Precisamos, então, processar essas informações por meio de abordagens profundas e que nos permitam armazenar estas memórias de forma saudável, adequada e adaptada.

Nosso cérebro tem a capacidade de processar memórias o tempo todo, mas, quando uma informação é armazenada de forma inadequada, porque houve uma experiência traumática ou vivida como tal, a pessoa precisará de um profissional competente para ajudá-la a processar e integrar esta memória a redes saudáveis.

Felizmente existem formas de trabalhar profunda e amorosamente essas informações, integrando-as à vida de forma mais saudável.

 

Sandra Maria Fiore Colaiori
CRP06/34949
Psicologia Transpessoal, EMDR; Brainspotting; Psicossíntese; Hipnoterapia Ericksoniana
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