Como explicar as festas clandestinas, as praias lotadas, os passeios de iate em terras indígenas para todos aqueles que estão cumprindo os protocolos da saúde para evitar transmissão da Covid 19? O que as autoridades públicas podem e devem fazer para reverter essa situação?

O cérebro e a psicologia explicam e podem colaborar na transformação destas atitudes.

O isolamento social agudo, forçado, pode acarretar nas pessoas uma resposta de “craving” * ou fissura, semelhante àquela que acontece quando as pessoas são privadas de determinados alimentos calóricos ou expostas à fome. Trata-se de uma resposta de compulsão na busca das sensações causadas pela exposição ao objeto de que se depende.

A adicção é um vício, normalmente relacionado ao consumo de álcool/drogas ilícitas, mas também pode significar dependência psicológica ou compulsão por sensações, situações ou objetos, tais como: jogo, comida, sexo, pornografia, computadores, internet, videogames, notícias, exercício, trabalho, TV, compras, entre outras tantas.

Todos buscam preencher um vazio.

Nessa situação, estudos comprovam que à exposição a um “gatilho”, que lembre o objeto do qual se está privado, o cérebro responde, buscando esse prazer, podendo criar uma dependência.

E como reverter essa situação? Encorajando as pessoas que têm dificuldade em lidar com o isolamento social a buscar ajuda. As técnicas psicoterapêuticas individuais, meditações, orações contemplativas, técnicas respiratórias podem ajudar, melhorando a autoconsciência e, consequentemente, a autopercepção, o conhecimento e gerenciamento das emoções, a possibilidade de uma melhor avaliação da realidade, de escolher e inibir comportamentos inadequados que nos prejudicam e podem prejudicar os outros.

As autoridades públicas e sanitárias podem considerar e se valer desse conhecimento no enfrentamento à Covid 19.
Como humanidade, estamos correndo enorme risco e só sobreviveremos se enfrentarmos isso juntos. Eu me protejo e assim, protejo você.

*Estudo científico descrito na revista Nature Neuroscience e citado pela Dra. Regina Lucia Nogueira.

Texto escrito por Sandra Colaiori
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta